Se você estiver em Salvador no início de fevereiro, prepare-se para viver uma das celebrações mais bonitas do Brasil: o Dia de Iemanjá, comemorado em 2 de fevereiro, com epicentro no bairro do Rio Vermelho.
É um evento onde a fé, a cultura afro-brasileira e a festa popular se misturam de forma única. Eu estive lá e conto agora como foi essa experiência, com direito a caminhada entre os devotos, tambores, oferendas no mar e até uma escuna com um terreiro.
Minha experiência no Dia de Iemanjá em Salvador
O telefone não tocou na madrugada do dia 2 de fevereiro e, embora ainda fossem 5h30 da manhã, eu já corria pelas ruas do Rio Vermelho, me sentindo atrasada. Com os os mais rápidos que minha saia de renda branca me permitiam dar, eu me desviava das multidões que inundavam o bairro.
Assim como eu, algumas das pessoas ali se despertaram antes do sol nascer e, trajando as cores da rainha, se dirigiram para a orla para prestar suas homenagens no dia de Iemanjá em Salvador. Outras tinham cara de ontem, olhar bêbado e sorriso na cara.
ei por tambores, batuques, procissões com estátuas e flores e blocos de carnaval. Na Bahia, a fé e a festa andam sempre juntas.
Não consegue visitar Salvador no 2 de fevereiro? Essas atividades podem te dar um gostinho do que é a festa na cidade:
A história e a tradição de Iemanjá na Bahia

Embora as oferendas sejam entregues em diversas praias do Brasil, é no Rio Vermelho que a festa tem mais corpo.
A tradição começou em 1923, quando um grupo de pescadores, preocupados com a escassez de peixes, decidiu fazer uma oferenda à Rainha do Mar, pedindo fartura e proteção.
Eles prepararam um presente com flores e outros agrados e entregaram tudo ao oceano em agradecimento e como um pedido de bênção. A pesca melhorou, e o ritual ou a ser repetido todos os anos, ganhando força e atraindo cada vez mais devotos.
Com o tempo, o evento deixou de ser apenas uma celebração dos pescadores e ou a reunir adeptos do Candomblé, simpatizantes das religiões afro-brasileiras e até pessoas que misturam fé e tradição sem necessariamente seguir um credo específico.
Por volta da década de 1950, a Festa de Iemanjá havia se tornado um evento consolidado na cidade, reunindo milhares de pessoas na orla do Rio Vermelho.
Como é o Dia de Iemanjá no Rio Vermelho
Quem a pelo Rio Vermelho na noite do dia 1 de fevereiro já pega um vislumbre do que é festa.
Assim que o sol se põe, a areia da praia se enche de devotos levando suas oferendas: rosas brancas ou crisântemos, em sua maioria, mas também cartas com agradecimentos e pedidos, sabonetes, barquinhos enfeitados, conchas e búzios.
Os pescadores os aguardam em seus barcos de madeira e, por cerca de R$ 20, acordam o transporte até um ponto longe da praia, onde os presentes seriam deixados sem o risco de que retornassem à areia.
Esse é um dos momentos mais simbólicos e emocionantes da festa, e pode ser vivido de forma ainda mais intensa se você for além da orla.
Já no dia 2 de fevereiro, Salvador amanhece vestida de branco. Desde as primeiras horas da madrugada, milhares de pessoas seguem em direção ao bairro do Rio Vermelho para prestar homenagens a Iemanjá.

As ruas ficam tomadas por devotos, simpatizantes das religiões de matriz africana, curiosos e foliões que misturam fé e celebração.
A praia se transforma em um grande altar coletivo, onde as pessoas depositam flores, perfumes, cartas e pequenos barcos enfeitados com pedidos e agradecimentos. Os tambores tocam sem parar, os terreiros fazem seus rituais públicos e o clima é de reverência, mas também de festa.
À medida que o sol nasce, a atmosfera devocional dá lugar a uma verdadeira celebração popular. O bairro do Rio Vermelho se enche de blocos, ambulantes, turistas e moradores que transformam a homenagem em um carnaval improvisado à beira-mar.
É uma festa intensa e carregada de simbolismo, onde espiritualidade e alegria coexistem em harmonia. Participar do Dia de Iemanjá em Salvador é viver uma das expressões mais autênticas da identidade cultural da Bahia.
Dicas práticas para curtir o dia de Iemanjá no Rio Vermelho, Salvador
- Hospede-se no Rio Vermelho: no dia 2, o bairro é fechado para carros e só ível a pé. Estar hospedado por ali facilita tudo.
- Vá à praia no dia 1 à noite: até as 20h ainda é tranquilo e é um ótimo momento para ver as oferendas chegando.
- Chegue cedo no dia 2: antes do amanhecer, para ver os barcos partindo com as oferendas na alvorada. Nessa hora, a energia é mais devocional. Depois das 7h, o clima muda e a festa se mistura com o carnaval.
- Leve sua oferenda: comprei minhas rosas por R$ 5 com vendedores locais.
- Cuidado com furtos: use doleira e leve só o essencial. Esse ano houve relatos de arrastões em algumas ruas adjacentes.

Onde ficar no Dia de Iemanjá em Salvador
Durante o Dia de Iemanjá, o melhor lugar para se hospedar em Salvador é, sem dúvida, o bairro do Rio Vermelho, onde a festa acontece.
Estar por ali significa poder acompanhar a movimentação desde a noite do dia 1º, caminhar até a praia para entregar suas oferendas e aproveitar a celebração sem depender de transporte ou enfrentar bloqueios de trânsito.
É importante lembrar que as ruas do bairro são fechadas para carros durante o evento. Além disso, o Rio Vermelho é um dos bairros mais boêmios e vibrantes da cidade, cheio de bares, restaurantes e uma orla linda, ideal para quem quer curtir Salvador além da festa.
Se você prefere um lugar um pouco mais tranquilo para descansar, mas ainda quer estar por perto, considere se hospedar na Graça ou no Barra. Esses bairros ficam a poucos minutos do Rio Vermelho e oferecem boas opções de hospedagem, com fácil o de carro ou transporte por aplicativo (até o início dos bloqueios).
É importante reservar com bastante antecedência, já que a cidade costuma receber muitos visitantes nessa época e os lugares bem localizados esgotam rapidamente!
Veja nossas sugestões:
- Hotel Bahia do Sol
- Novotel Salvador Rio Vermelho
- Hotel Catarina Paraguaçu
- Casa da Cacá
- Hotel Charme Fonte do Boi
Opção para o Dia de Iemanjá: leve suas oferendas em um barco de um terreiro
Depois de ver as oferendas no Rio Vermelho, segui de uber, para o Terminal Náutico de Salvador, onde eu deveria estar às 7:30 da manhã para me encontrar com Pai Fábio, pai pequeno do Terreiro do Pai Rodney, com quem eu havia combinado, na noite anterior, minha participação no grande evento organizado pela casa para saudar Iemanjá.

Foi Ismael dos Anjos, um amigo frequentador do espaço em São Paulo, quem me falou da festa: “Eu participei há alguns anos e é muito especial”.
No início, pensei que não queria perder as homenagens coletivas no Rio Vermelho, mas quando entendi que, ali pela metade da manhã, o evento da praia se tornava um grande carnaval, a ideia de levar uma oferenda em alto mar me pareceu a melhor opção.
À bordo de uma escuna, com grupo de 80 ou 100 pessoas de várias partes do país, todos deixamos nossas rosas em um grande buquê e, após algumas palavras, orações, canto e tambor, as flores foram jogadas ao mar.
“Agora é festa”, disse Pai Rodney. E com comida e bebida boa e farta, dançamos músicas da Bahia e mergulhamos na Praia das Neves. O pacote com tudo incluso custou R$ 400.

Outras festas populares na Bahia
Além do Dia de Iemanjá, a Bahia é palco de diversas festas populares que revelam a força da cultura afro-brasileira, a musicalidade do povo baiano e a potência das manifestações religiosas e comunitárias.
Uma das mais conhecidas é a Lavagem do Bonfim, que acontece em janeiro e mistura rituais católicos e de matriz africana.
Milhares de baianas vestidas de branco caminham do Comércio até a Igreja do Bonfim, carregando jarros de água de cheiro para lavar as escadarias do templo, um gesto simbólico de purificação e fé que emociona quem acompanha.
Outra celebração marcante é a Festa de Santa Bárbara, padroeira dos bombeiros e sincretizada com Iansã no candomblé, comemorada em 4 de dezembro no Pelourinho com cortejo, comida típica (caruru e feijoada) e muito tambor.
Já em agosto, no Recôncavo Baiano, acontece a Festa da Boa Morte, em Cachoeira, organizada por irmandades negras que resistem há séculos. Trata-se de uma das festas mais importantes do calendário afro-brasileiro, marcada por rituais religiosos, celebrações discretas e desfiles de fé e ancestralidade.
Para quem busca uma imersão real nas tradições do estado, participar dessas festas é uma maneira única de entender a alma da Bahia.