“Vote no brigadeiro, que é bonito e é solteiro”. O slogan, entoado exaustivamente nas principais cidades do país, marcou a campanha presidencial de 1945. Aquela foi a primeira eleição em que as mulheres puderam, de fato, exercer o direito de escolher o presidente. Embora o sufrágio universal feminino tenha sido declarado no país em 1932, o pleito de 1934 foi indireto e o de 1938 não chegou a acontecer. Por isso, era evidente que o voto das mulheres seria crucial para as campanhas do brigadeiro Eduardo Gomes e do General Eurico Gaspar Dutra.
Foi na tentativa de receber esses votos que o Brasil ganhou a sua sobremesa favorita. Eduardo Gomes, que já era famoso no país por ter participado e sido ferido da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, em 1922, ganhou a simpatia de grupos de sufragistas que se opunham ao então presidente Getúlio Vargas e seu sucessor Gaspar Dutra. Para arrecadar fundos e virar votos em favor do candidato, essas mulheres aram a vender doces e a repetir o slogan que tornou essa campanha famosa.
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Rio de Janeiro x São Paulo: onde nasceu o brigadeiro?
Como toda boa história que envolve a invenção de algo de prestígio, existe uma polêmica em torno de qual cidade teria, de fato, criado o brigadeiro.
De um lado, historiadores afirmam que a ideia de juntar chocolate em pó e leite condensado até o ponto da mais perfeita cremosidade surgiu entre um grupo de mulheres do bairro Pacaembu, em São Paulo, e que as iguarias eram vendidas em festas de apoio a Eduardo Gomes na cidade. A popularidade do docinho foi tão alta que rapidamente as pessoas já convidavam umas às outras para “comer o doce do brigadeiro”, e a receita não demorou a se espalhar pelo resto do país.
Essa versão é reforçada pelo fato de que as duas únicas fábricas de leite condensado que existiam na época estavam localizadas no Estado de São Paulo, uma delas na capital, assim como a fábrica do “Chocolate do Padre”, marca de achocolatado utilizada nas receitas mais antigas do doce.
Do outro lado da disputa, a antiga capital do país clama para si a criação da receita, em uma narrativa que se parece com a de São Paulo. Entre as muitas versões da história, está a que Heloísa Nabuco, uma moça de uma família tradicional na cidade que apoiava publicamente o candidato, teria criado um doce de chocolate que levava leite, ovos, manteiga, açúcar e o batizou com a patente do Brigadeiro Eduardo Gomes.
Mas a versão mais cômica e, particularmente, minha preferida, é a de que o doce foi assim batizado fazendo referência a um suposto incidente ocorrido com ele durante a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, no qual ele teria perdido seus testículos após uma lesão na virilha ocasionada por arma de fogo. Como a nova sobremesa não levava ovos, o nome seria uma homenagem maldosa ao candidato.
A invasão do leite condensado
Independentemente de quem tenha inventado o brigadeiro, o fato é que o doce é uma cria de seu tempo. Desenvolvido para esterilizar o leite e permitir seu uso durante a primeira e a segunda guerra, o leite condensado era um produto novo no mercado, e só ou a ser comercializado no Brasil na década de 1940.
Na mesma época, em decorrência da Segunda Guerra, alguns produtos básicos sofreram racionamento, como ovos, leite e açúcar, e produtos importados da Europa, como algumas frutas e nozes que eram comumente usadas em sobremesas finas, pararam de chegar por aqui.
Por isso, o jeito era inventar com o que tínhamos disponível para matar a fome de doce, e há muito já se sabe que as melhores ideias nascem de criar em cima das limitações. Resta saber se Eduardo Gomes se afogou em uma a de seu próprio doce para curar a dor de cotovelo da derrota nas urnas.